Para começar, um imperativo. A Ordem faz parte da Partida. |
'Me disseram: Se está
doendo o peito, esprema até sair alguma poesia. Quem sabe assim melhore.
Disso comecei a revirar a bagunça que se acumulava sobre minha mesa. Jornais de muitos dias, até meses. O passado abandonado entre a mesa e a poeira.
Comecei a separar o que pudesse ter alguma utilidade do que fosse destinado ao lixo, Recortando o que me atraísse alguma atenção, viajando no tempo rumo a dias que já se foram e só deixaram alguma lembrança e trouxeram algum esquecimento.
Entre cadernos velhos, restos de cartas abortadas, esquecidas na minha embriaguez apressada dos dias. Entre esses papéis encontrei um postal que foi recusado na agencia dos correios. Ele absorve minha atenção. Me chama. Eis o que estava escrito:
Quem vive sempre anda em uma frágil corda-bamba. |
"Mais palavras para ti, nesse improviso
sujo, com idéias tímidas, entorpecidas por sons de guitarra. A madrugada é
quase real, mas não traz riso nem redenção e o que resta é o sono, o sonho e a
lua teimosamente pendurada no topo do céu. E aí? Como é? E minha interrogação é
uma orelha esperando resposta. (Será isso mesmo? Uma orelha? Parece.) Que venha
a resposta e a madrugada. Boa noite, minha Amiga, e bons dias, porque 18/11
nasceu faz pouco tempo e amanhã já será apenas uma lembrança. Vamos vivê-lo,
porque ele tem vida breve, mais breve do que a arte, mais breve do que a nossa.
E vai o abraço de sempre do seu camarada de noites e dias,"
As palavras e pensamentos de improviso que se desenharam naquele momento ainda vibram aqui, entre a saudade e o calor da tarde.
Postais que foram no vento, cartas não concluídas, fotos, notícias, e tudo mais que ficou no passado, servem, de certo modo, para mostrar que é possível algum futuro, que é preciso fazer o hoje, deixar alguma lembrança, alguma prova da vida vivida, para revirar os jornais em algum amanhã longe e ver que se viveu. E assim, depois de palavras óbvias e uma faxina simples, percebe-se que ficou mais arrumado o quarto e mais claro o dia. E restou a esperança de que alguém me compreenda.'
Texto do dia 23/03/12.
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