quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Nossa Vã Filosofia #2 - Sobre Saudade e Outros Sais

O imperativo segue nos movendo entre os dias e palavras.
O dia está nublado, então pensei, entre o Drummond e As Nuvens, que 'Eu não devia te dizer, mas esses dias nublados botam a gente comovido como o diabo' . Porém, como as nuvens vão passando, vou me sentindo mais afeito a compartilhar essa 'Vã Filosofia'.

"Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4,4)
Sim, devo concordar quanto à nossa vasta alimentação. Digo vasta, já que a Palavra, com P maiúsculo nesse caso, é um singular demasiadamente plural, e desse coletivo compactado em um substantivo simples residem as inquitações humanas, desde as que nos deixam sem dormir, às que nos movem ao ofício, ainda que voluntário, de escrever.
Depois de sair do labirinto de vírgulas, creio que os que insistem em seguir nessa linha de pensamento (estarei escrevendo certo por linhas  tortas?) já percebem as fomes e sedes que têm, que estão certamente contidas na Palavra.
O que predendo dizer é que essa divindade, singular, plural ou adjetiva, nos move por nossa fome e sede que vai além do pão. Não entro no mérito da criação. Se a divindade nos criou ou ocorreu o contrário é uma sede que não tenho no momento. A sede que tenho é de escrever e falar dos pensamentos que vêm nas meditações do silêncio da alma.
Como os animais que migram a procura de pastos, nós, tão animais quanto os demais, migramos em busca de saciar as fomes que vão além do pão. Disso, nos debruçamos sobre nós mesmos, sobre nosso semelhante, sobre nosso coletivo de almas quase repetidas.
No título do texto falei de saudade, essa palavra, que em nosso patriotismo bobo é motivo de orgulho, nada mais é que a designação de uma das cores que cobrem a alma humana, seja no Brasil, seja no Tibet. Desde o Ulisses de Ítaca, ao nordestino que vive no sudeste, a saudade, sem som, ou palavra, é visível.
O acúmulo dos dias na distância faz sentir na alma a vontade de voltar em espaço, e talvez em tempo, ao lugar lembrado.
Se falo de saudade é pelo entendimento que julgo ter. Se a vivencia trouxer algum aprendizado, certamente esse é um que trago, já que desde cedo 'meu caminho pelo mundo eu mesmo traço'. Da infância, sendo forasteiro na Capital, hoje sou forasteiro no interior, e as saudades não cessaram, somente mudaram de lugar.
Os amigos e os amores se somam no sabor da saudade, que por vezes nos surpreende no amanhecer, ou, como é o meu caso, no entardecer, quando tudo parece ter menos cor e som das lembranças é mais audível. Nos passos apressados para o regresso ao descanso de casa ( quando direi 'lar'?), passam entre os desconhecidos, em relance, algum rosto que nos faz olhar novamente, algum perfume que nos embriaga de passado, ou alguma voz que nos chama pela semelhança.
No meio do cotitiano, atravessando as horas, a saudade.
Mas eu disse que saudade é sal, e meu texto não teria sentido se eu não disse o porquê dessa comparação. Até onde me lembro, em afetividade e culinária, os sentimentos e temperos nós são tão comuns quanto à necessidade de alimento, daí fazer essa comparação tão boba quanto simples, mas que, ao menos para mim, faz sentido. A saudade que carrego, se incomoda pela quantidade, talvez deixasse os dias com menos cor se não existisse. O desejo de voltar, seja em tempo ou em espaço, é uma vontade que nos move entre ruas e dias.
O desejo, esse outro sal, vai nos fazendo construir vidas e casas e tentando equilibrar o paladar sensível dos dias em busca de algum ideal que nos agrade.
Falei de poucos sais, já que esse plural é vasto. O que restou, faz parte de dias outros que estão além de qualquer amanhã e talvez apareçam nas minhas palavras em um outro dia.
E assim eu vou falando a 'Nossa Vã Filosofia'.

2 comentários:

  1. Assim como vc, me encantei com o Manual de José Albano, faço algumas viagens curtas pelo estado de SP com uma 125 chamada Lola. Adorei seu blog e acredito que ele sirva de inspiração para aqueles que não querem ficar na fila, para aqueles que não precisam de uma moto "de estrada" para serem capazes de se aventurar. Adoraria ver novas postagens aqui. Um abraço e bons ventos...

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    1. Meu caro, muito obrigado pelas palavras, passei esses dias sem postar pelas correrias de final de ano, mas estou voltando 'com todo gás'!!
      Na fagina do blog no face ( Facebook.com/125cilindraventuras ) dá para ver mais imagens das aventuras e dos bastidores. Em breve posto as novas viagens que ainda estão na 'gaveta'.
      Muito boas tuas palavras, valeu mesmo! E quando vier pelo Nordeste, avisa que a gente dá umas voltas por aí! Abraço!

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